Chico. Posso te chamar assim? Acho que posso, já que nos conhecemos há muito tempo. Hoje é seu aniversário e poxa, você esta ótimo para setenta anos. Eu vou fazer quarenta e cinco e estou detonado! E olha que nem cantar eu canto… rs.
A primeira vez que nos vemos foi no meu colégio. Era uma aula de teologia, acredita? Um seminarista nos ensinava sobre política e para abrir nossa mente provinciana, gastou umas duas aulas explicando frase a frase sua música “Vai passar”. Ali, já com meus 17 ou 18 anos, tive um êxtase, ou uma epifânia, para manter o seu nível. Me dei conta da sua genialidade, da sua coragem, da sua capacidade de nos oferecer presentes como esse. Eu, que venho de uma família pobre, não fui apresentado à boa musica ou não tive acesso a qualquer tipo de cultura, seja cinema, teatro, livros, poesia, musicais, shows ou até a boa musica como a sua. Sequer sabia quem era você. Meu pai ou minha mãe, coitados, tinham acesso apenas e tão somente a um velho rádio. Assim, nesse dia, conheci você. E a primeira impressão foi excelente.
Sabe? Estou feliz por você. Alias, muito feliz. Como se você fosse um irmão mais velho meu fazendo aniversario, já que tenho livros seus, discos de vinil, Cds, mps3… calma. O cd é original! Rs. Uma vez pedi de presente de aniversário e me deram dois. Embora tenha sua coletânea completa em mp3. Todinha! Mas não me julgue, sou brasileiro, mais um na massa que também compra em camelôs. E o Congresso Brasileiro todo dia me incentiva, não!?
Então, meu velho Chico, quando li Budapeste senti sua genialidade pela segunda vez. E quando o filme foi adaptado, que felicidade ver sua obra ganhando vida nas telas. Que prazer ter você como Brasileiro. Que pena que esse bando de ignorantes não sabem exatamente seu valor. A maioria dessas meninada o pretere a um rap, funk, pagode, axé… mas fazer o que? Apreciam musicas que não possuem conteúdo e servem apenas e tão somente para a dança do acasalamento. Veja por ai. Nosso país que já exportou boa música, hoje produz e consome músicas que quando muito possuem uma ou duas estrofes. E as boas músicas que escutamos são de décadas passadas. Assim o lixo e o mau gosto nos cercam, nos invadem, nos influenciam, nos rotulam. Uma banda ou um cantor ou cantora pode nos surpreender, mas a maioria produz o que a demanda pede. E, que triste constatar que o povo não quer consumir rock, jazz, blues, frevo, samba, mpb, música clássica ou erudita, reggae, soul, forró ou ainda que seja um pop, funk, rap, gospel, sertanejo, mas de boa qualidade! … só não vale tango! Afinal é copa do mundo. Rs. A cultura de massa, promovida por um governo repleto de maus elementos e patrocinado e mantido por interesses econômicos, tornou a todos, isso: superficiais, rasos e vazios. E olha que para falar isso, já escutei de tudo! Como resistir? Está em todo lugar. Não ria, mas já escutei Lepo-Lepo, rs.
Mas, esta tudo certo. É entretenimento. Como um sorvete ou uma pizza, que no dia seguinte ninguém mais se importa ou se lembra do sabor ou dos ingredientes. Diferente da sua obra que por décadas ainda toca, ainda emociona, ainda faz diferença. Não sou um fã clássico ou me autodenomino qualquer outro adjetivo dessa natureza, portanto não sei nada da sua vida pessoal, mas acho que você deveria estar na Academia Brasileira de Letras ou ter recebido a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul ou quem sabe ter algumas estátuas tuas espalhadas por esse país para que todos possam saber quem é você. Se bem que a porra dessa Ordem é só pra estrangeiros. To sem Google Chico, não sei qual é a mais alta condecoração a um brasileiro.
O fato é que Chico Buarque de Holanda é um dos maiores compositores da Música Popular Brasileira, escritor, ator, produtor e tudo mais. Todos precisam saber isso. A Mangueira bem o fez no carnaval de 98. Foi fantástico. Seus prêmios Jabuti são merecidos também. Sua obra literária é necessária! Que pena não ter podido ver nenhuma peça teatral sua.
Mas, embora não leia Contigo ou veja Leão Lobo, como macho alpha que sou… rs. gostei daquele episódio da praia com aquela mulher. Você achou que passaria despercebido? Nossa sociedade machista adorou. Muito legal. Não sou viado não, mas esses olhos, essa voz… a guria não resistiu. Acho até que o marido dela sentiu-se orgulhoso por seu bom gosto. Rs.
Sabe, nesse seu aniversário me lembrei de algumas musicas tuas. Alias, hoje a tarde vou escutar, em homenagem a você, todos os meus vinis. Vou também comprar e ler Estorvo. E esse livro ai que você esta escrevendo, vou ler também. Mas hoje, por hora, vou escutar de novo Mulheres de Atenas. Como não escuta-a por toda a vida? Como não lembrar dela nos filmecos americanos como Tróia? Ou 300? A analogia com Feijoada Completa é de gozar nas calças. E olha que recebi consciência só em 1982! E aquela Pedro Pedreiro? Meu pai era pedreiro. Cara, que magnitude tem aquelas linhas, aqueles versos. Roda Viva. Meu Deus que linda, que profundidade. Apesar de você… tenho duvidas quantas centenas de vezes a escutei. Olhos nos Olhos? Impossível não se emocionar. Cálice! Um presente à historia! João e Maria! Que boa lembrança eu tenho dessa música. Embalou alguns momentos de um amor inocente, puro que tive a graça de ter. E pela minha lei, a gente era obrigado a ser feliz. E você era a princesa que eu fiz coroar. E era tão linda de se admirar. Que andava nua pelo meu país. Estou emocionado. Arrepiado. Obrigado.
E você que já foi casado trinta anos com a Marieta, aquele espetáculo de atriz, sabe exatamente o que um homem adulto sente diante de um separação, do fim de um romance. Trocando em Miúdos … lembra? Mas devo dizer que não vou lhe dar. O enorme prazer de me ver chorar. Nem vou lhe cobrar pelo seu estrago. Meu peito tão dilacerado. Fudido demais. Quem já amou ou foi amado e percorreu a triste e feliz tríade inicio, meio e fim, sabe exatamente o que a música apresenta. E Olhos nos Olhos? Quando você me deixou , meu bem. Me disse para ser feliz e passar bem. Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci. Mas depois, como era de costume, obedeci. Nossa. Eu sei exatamente o que é isso. Na pele, no coração, nos olhos. Rs.
Poxa. Você deve ter muita história. Se bem que no passado acho que era mais interessante. Na época dos festivais. Seu amigo Vinicius de Moraes, Caetano, Francis Hime entre tantos. Eu apreciador da vida… sou grato por sua história, sua obra.
Mas, vamos lá. Parabéns! Vamos celebrar sua vida, sua obra… sua existência por esse tempo. E que alegria eu poder viver na mesma época que você. Muito obrigado. No seu aniversario, quem se sente presenteado sou eu. Receba um grande e fraterno abraço, meu amigo. Meu velho, amigo Chico.
#chicobuarque