Um dia desses saímos por ai para pegarmos um pouco de felicidade aqui ou ali. Acho que comemos um pastel de um japonês chamado Jorge e que entende mais de queijo do que qualquer mineiro. Embora as vezes andássemos sem nos darmos as mãos ou não nos olharmos, estávamos juntos, tanto no sorriso mutuo quanto em nossos olhares. Um queria o bem o outro, as vezes mais, as vezes menos.
Acho que chegamos numa rua cheia de coisas e gente. Tinha gente de todo tipo: feias, bonitas, magras, gordas, novas e velhas. Todas vendiam algo, umas por compulsão e outras por necessidade. Havia coisas que não serviam para nada e outras que acreditávamos jamais existir. Fomos garimpando a procura de sei- la-o-que que serviria para algum lugar no enorme quebra cabeça que é a minha loucura quando quero algo.
De repente, ali no meio da multidão, estava ela. Linda, esperta, com os olhos vivos, latindo para nós dois. Estava dentro de uma pequena caixa, creio, desesperada por atenção, carinho e comida. Impossível não leva-la para casa. Uma pequena menina citou rapidamente sua pouca origem. Tinha um mês ou pouco mais. Era miúda, mas esperta e sagaz diante dos seus irmãos que la ficaram. Pediram cinco reias como ajuda de custo pela ração ou transporte. No colo não saiu mais. Ela chorava como qualquer criança com medo do mundo, das suas cores e barulhos. Encontrou de imediato nos braços de uma ariana muito carinho…
Ela ficou entre os pés, ora quieta e outras desesperada. Ganhou o nome de Evita. Ganhou corpo, personalidade e nossos corações. Um quintal enorme para fazer de tudo. Comeu tênis, sofás, bolsas e até prendedor de varal. Fez uma dieta a base de grama por um tempo. Ganhou casa, comida, remédios e até uma carteira de identificação…
Mas como a vida não é amena para ninguém, não tinha o que mais queria, companhia. A solidão invadia seu ser e por vezes era visível sua euforia com pingos de atenção. Migalhas de amor para quem tinha todo o amor do mundo para dar. Foi preciso, racionalmente, emocionalmente, ganhar um novo lar.
Esta por ali, entre o aquele bairro e o tal parque, numa casa cheia de crianças que adoram cachorros. Um dono que entende tudo da forma simples de como criar um animal. Hoje bateu a saudade, daquelas que cortam o peito sem pedir licença e não nos deixam esquecer aqueles momentos em que vivemos juntos. O gosto amargo da saudade enche meus olhos de lagrimas. Sua alegria quando nos via…
Um detalhe de uma brincadeira, um latido… ainda estão presentes, tão vivos. As vezes acreditava que aquele olhar compreendia todas as minhas aflições. Foram sete meses, mas a saudade será eterna. Eu tenho certeza de que ela esta feliz. Alegre por ter espaço, carinho e um monte de gente para chamar de sua família. Sim. Ganhou uma família de verdade!
Acho que lhe demos tudo o que foi possível. As lagrimas irão secar e algumas irei guardar. O gosto amargo de sua falta irá sumir com o tempo. A vida exige esse caminhar, Evita. Um passo depois do outro. Eu duvido que Deus não esteja sorrindo, afinal todas essas palavras falam de amor.